A dor foi imensa. Aquilo, a meu ver, significava que eu jamais seria mãe de um filho vindo de mim, com meu sangue e quem sabe meus olhos verdes e minha boca bem desenhada. Eu jamais veria os meus traços em outro alguém.


Tive o carinho e o apoio incondicional de meu marido. Ele tentava me acalmar dizendo que adotar era um ato nobre e que talvez fosse o melhor. Não tenho nada contra adoção, nunca tive, mas que mulher não quer ter um filho vindo de si. Se reconhecer nesse outro serzinho, ouvir de alguém que ele(a) é genioso e teimoso como você? 
A adoção é sim um ato digno e maravilhoso, um dia, cogitava sim ter um filho do coração, mas há essa altura da vida, ter um filho biológico, era uma questão de honra. 

Não era uma queda de braço com Deus , era uma batalha pessoal, comigo mesma. Um dia impedi que uma criança tivesse o direito a vida, e agora me sinto na obrigação, de dar vida a uma criança, é uma questão de justiça.
Em Agosto de 2007 conheci um médico, por intermédio de uma amiga de trabalho, que me sugeriu a Fertilização in vitro. De pronto aceitei sua indicação, afinal de outra forma não seria possível me tornar mãe de um filho natural.
Fizemos então, mais alguns exames que nada de importante acusaram. Meu amor deveria fazer um tratamento com vitaminas para um reforço nos espermatozoides e em alguns meses poderíamos realizar o procedimento.

Em fevereiro de 2008 realizamos a primeira FIV. Não obtivemos sucesso, mas não me abalei, meu médico já havia me prevenido quanto a essa possibilidade.
Em abril uma nova tentativa e.... sucesso, eu havia conseguido engravidar. Nem preciso dizer o quanto foi especial e emocionante esse momento. Estávamos radiantes, enfim minha hora havia chegado.

Fiz o primeiro ultrassom com 6 semanas e foi possível observar que ele estava bem abrigado em meu ventre. Com 9 semanas pude ouvir o coração do meu bebê bater com força. Com 19 semanas fiz meu primeiro morfológico que mostrou que ele, sim era um menino, era perfeito e não tinha problemas de saúde. Com 22 semanas acordei de madrugada com muitas dores nas costas , na região lombar, ao me levantar percebi que havia feito xixi na cama , ri de mim mesma e me encaminhei até o banheiro para trocar de roupa. Mas havia algo estranho, eu sentia o xixi descer pelas minhas pernas , mesmo sem vontade. É, não era xixi, minha bolsa tinha estourado. Não tive tempo de me desesperar, acordei meu marido e fomos para o hospital.

Nada pode ser feito e mais uma vez, eu não seria mãe.

Não tenho como descrever o que senti. Eu já havia sofrido tanto, mas nada se comparava a dor daquele momento. Ele já tinha roupinhas , tinha nome, eu já havia visto suas mãozinhas , seu rosto, ouvi e senti seu coração pulsar junto ao meu, eu já o conhecia , ele já era parte de mim e da minha vida e de repente me foi tirado. Como superar algo assim ?

Nesse momento pensei em desistir. Não era justo com meu marido, eu não podia faze-lo sofrer daquela forma. Eu estava sendo punida por Deus , e ele não merecia ser castigado junto comigo.

Pedi o divórcio, garanti que não existia mais amor e que não queria ele por perto. Ele felizmente não acreditou e mais uma vez acalentou minha dor com seu amor e companheirismo. Por ele, decidi tentar mais uma vez, só precisava de um tempo para me recompor.

Decidi que precisava de um momento para me encontrar antes de uma nova tentativa, fui buscar a Deus com mais força . Voltei a frequentar a igreja e a comunhão com Deus me fez muito bem.
Me dediquei ao trabalho, a meu marido e a Deus por mais algum tempo. Meu amor esperou com paciência até que eu estivesse pronta e em Maio de 2010, nos submetemos a mais uma FIV.

Mais uma vez contamos com a sorte e a gravidez aconteceu. Com 16 semanas descobrimos que  seria um menino. Enfim teríamos nosso sonho que se chamaria Davi, mais quis Deus que não fosse o momento e mais uma vez , com 20 semanas de gestação , sofri um aborto.
Eu não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo novamente. Assim como no aborto anterior, pude ver meu filho, toca-lo. O tive em meus braços com vida, por exatos 44 minutos, quando seu coração parou de bater e seu último suspiro foi sentido.
Acho que seria nesse momento, que eu deveria me revoltar e desafiar Deus para um duelo, mas ao invés de perder a fé e mais uma vez me sentir castigada, algo mais forte falou ao meu coração.
Tinha algo errado comigo e eu faria de tudo para descobrir o que era. 

A partir dai comecei as pesquisas na internet, encontrei em 2011,um site que definia o meu sentimento naquele momento, Mãe a Flor da Pele . Era exatamente assim que eu me sentia, e passei a ler tudo e a buscar tudo que fosse informação útil ao meu caso. Passei a me comunicar com a administradora do Blog que se mostrou extremamente solicita. Me acalmou, me colocou no colo e buscou junto comigo uma explicação para o meu problema. 

Em algum ponto de nossa relação, me disse que achava saber o que eu tinha, que havia um caso semelhante na família e que tinha o médico certo para me indicar.
Marquei uma consulta com o médico sugerido e fui para São Paulo em busca de um diagnóstico que me trouxesse alguma esperança. Após alguns exames descobrimos que havia mesmo um problema, mas que a


maternidade ainda era possível para mim.

DR Ivaldo me explicou que provavelmente, no primeiro aborto, aquele as 16 anos, houve uma laceração no colo do útero que por sua vez evolui para uma insuficiência do colo, a chamada incompetência cervical, com isso, quando o bebê atingia um certo peso, meu útero não tinha mais forças para permanecer fechado, se abria e o aborto acontecia. 

Após a consulta que revelava a minha condição, voltei pra casa com uma certeza, Deus havia aberto uma janela em minha vida e eu não permitiria que o vento a fechasse.

Enfim C.M já sabe o que lhe impede de ser mãe. Decidida está prestes a partir para uma nova tentantiva. 

Amanhã, a sexta e última parte dessa linda história. 
Parte I Aqui 
Parte VI Aqui

Pé no chão e esperança no coração 
Tatiana da Costa 

8 Comentários

  1. não pude me conter nesse episódio, chorei como se a dor fosse minha, é muito sofrimento e mesmo assim conseguir achar forças pra continuar não é pra qualquer um.

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  2. Menina que história de lição e amor, me emocionei com as perdas, fiquei aqui sem poder acreditar que fosse real... e agora estou curiosa para saber o que vem mais pela frente

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    1. Infelizmente é uma história real Suzana. E mais infelizmente ainda é te dize que por mais incrível que possa parecer, tenho contato com mulheres que tiveram ainda mais dificuldades. Algumas ainda estão na luta mesmo após 8 fivs e mais de 10 anos de tentativas, e ainda assim , acreditam na vitória.
      Aos poucos, vou contando essas histórias por aqui.

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  3. Estou emocionada com essa história e lição de vida...como Suzana disse, não parece uma historia real!!! Depois de toda essa historia, espero mesmo um final feliz, pois tenho a certeza de que DEUS existe!!! Fico aguardando o final dessa linda lição de vida!!!

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  4. Todas as historias contadas no blog são lindas e emocionam qualquer mulher, principalmente as tentantes, assim como eu!!! Amo o blog e aprendo muitas coisas por aqui....

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    1. Fico feliz Denise que goste do nosso cantinho. Infelizmente ou felizmente, não sei bem, essa é uma história real e em breve contaremos outra história cheia de tropeços e pedras no caminho. Só estamos aguardando, eu e a relatante, o desfecho feliz :)
      Muito obrigada pelo carinho de todas vcs!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Nossa que historia mais triste ,meus olhos se encheram de lagrima,mas sei que Deus sabe todas as coisa,eu sei que é dificil passar por isto a minha historia mas ou menos parecida,Deus te abençoe C.M ,mas sei que vai chegar a minha vez.

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