sábado, julho 26, 2014

Mãe também erra

Mãe é um ser divino, perfeito, que age sempre em prol de seus filhos. Tem atitudes sempre acertadas, nunca perde a cabeça, tem sempre a resposta certa para o momento exato. Certo ? Nem sempre!
Se você espera ser uma mãe perfeita, boa sorte! Não é fácil e para mim perfeição é algo que beira o impossível. 

Antes de qualquer coisa, somos humanas, e como seres humanos, aprendemos através dos erros e dos exemplos. Educar não é fácil, e manter suas próprias falhas a parte da educação aplicada é tarefa árdua e cansativa.

Ser mãe não nos torna pessoas perfeitas, livre de falhas e de erros, mas olhar para dentro e se enxergar como exemplo deve ser uma constante em nossas vidas. Ninguém está livre de errar, ninguém é imune a falhas. Se pergunte quantas vezes só essa semana você fez, pensou ou falou algo que poderia ter feito diferente.
Como uma criança vai assimilar que gritar não é certo, não é bom, não faz bem, se ela ouve o famoso "Não grita!" pelos berros desconcertados da mãe ou do pai? 
O estresse e o medo que tenho vivido nessa nova gestação tem muitas vezes me feito viver momentos assim, e isso tudo tem me feito questionar o tipo de mãe que eu jurei que seria  e a mãe que sou.
Minha mãe sempre foi ótima nos cuidados comigo e com meu irmão, nos cuidados com a casa, com os horários das refeições, com os deveres escolares e com as cobranças de higiene e educação, mas não me lembro por exemplo, ter ganho um eu te amo, ou um afago sem motivo para tal.
Claro que sei que ela sempre nos amou, entregou sua vida a nós. Deixou de trabalhar para estar conosco, após a separação teve que nos deixar para trabalhar e sustentar na raça a casa e os filhos, abriu mão da vaidade para que tivesse condições de nos dar algo melhor. Ao invés de cabeleireiro, manicure e roupas novas, tênis bom, escola boa e alimentação adequada. São raras as famílias que conseguem proporcionar básico e "supérfluo", a minha, não conseguia e eu nem sempre consigo.
Mamãe sempre foi protetora, leoa e severa. Aí de quem falasse algo dos filhos. "Bata na minha cara mas não tente educar meus filhos". É a frase que mais ouvi dela quando pequena. Mas nunca me dei conta da falta que um afago dela me fez até ter os meus próprios filhos. Hoje sei que a falta de tempo e o stress do dia a dia talvez fossem os principais culpados, mas ainda assim, me fez falta.  De repente me vi desesperada, tentando me fazer entender o tempo todo. "Filha eu te amo"!  "Vem cá, deixa eu te dar um beijo."
"Filho mamãe ama você, sabia ?" Enfim, eu sabia cuidar, zelar, proteger, alimentar como minha mãe e tinha vencidos barreiras para também demonstrar todo o meu amor sem deixar que a vida massante engolisse meu lado maternal mais importante. Ufa! Acho que eles sabem disso.
E acho que sabiam, até eu me sentir segura quanto ao entendimento deles, sobre o tamanho do meu amor. Devagar o estresse do dia a dia foi tomando conta da rotina da minha casa, e quando me dei conta, estava eu aos berros pedindo que eles não gritassem. 0.o 

O que me fez acordar ? "Mãe, você também está gritando" 
Caraca, como eu não percebi isso antes?
Choque, corrida para o banheiro e choro. Passei lá alguns bons 15 minutos me punindo por ser um péssimo exemplo para os meus filhos. Saí de lá decidida a rever minha postura e não só tentar, mas agir de uma forma diferente. 
Deixei o trabalho um pouco de lado (passos os dias deitada mas com o notebook ao lado para dar conta de todas as mensagens, postagens e emails) e passei a observa-los em suas atitudes corriqueiras e diárias. Meus filhos são do tipo que se acomodam onde eu estou. Como tenho passado 99% do meu tempo no quarto, é lá onde eles são mais facilmente encontrados. Estudando, brincando, brigando, assistindo tv, ou simplesmente deitados ao meu lado matando o tempo. 

Sabe o que encontrei nesse contato mais cuidadoso? Todos os meus erros e falhas. 
Minha filha autoritária, impaciente e estressada como eu, e meu filho nervoso, agitado e gritão como o pai. Sei que o momento que vivemos não é fácil, o medo é nosso companheiro diário, a família toda, quer sim quer não, vive essa tensão, mas como foi difícil me encarar nesse espelho. 

João, meu filho caçula, sai da cama e antes mesmo do bom dia me pergunta. "mãe como você está? Tudo bem? Não "tá" sentindo dor ? E a Nina, já mexeu hoje, ela está bem? Minha filha passa o dia perguntando se eu preciso de alguma coisa e se estou confortável. Meu marido se eu me movimento com mais dificuldade ele já vem correndo saber o que houve, se levanto da cama durante a noite para um xixi já ouço um "Amor o que houve? Está tudo bem? Não está sangrando?Percebem a preocupação constante de todos?
Sei que o momento é de preocupação e medo, mas ainda assim dói demais perceber como nossas próprias atitudes afetam a vida de nossos filhos. Reclamamos tanto da falta de educação, da falta de organização, do excesso de malcriação e não nos damos conta que eles são apenas reflexo de nós mesmos e que uma situação como a que estamos vivendo hoje, mexe não sou com a gestante de risco, a mãe, mas com a família toda. Como me sinto? Na maioria do tempo culpada. 
Quem quer fazer um filho sofrer mesmo sem querer? Quem quer ser o malvado da história de quem mais se ama ?
Difícil demais admitir tudo isso, mas muito mais difícil é -los sofrer. Alguns pais preferem usar do bordão "Fui criado assim e não morri". 
Não morreu, não foi feliz e não sabe fazer feliz. Outros, e muitas das que vão ler esse texto e se achar no direito de julgar, dirão " Ajo sempre de forma acertada e penso sempre neles em primeiro lugar". Legal, negação , primeiro passo para o erro! 
Você pode mentir para mim, para o mundo, mas você sabe e mesmo que não encare, tem consciência de que nem sempre é o exemplo que gostaria de ser.
Para ter filhos é preciso muito mais do que ter estrutura financeira para criá-los, é ter a consciência de que é necessário se  estruturar como pessoa para ser um bom pai, uma boa mãe. 
Reclamos do que vemos na rua, mas será que estamos fazendo diferente? 
O fato é que muitas vezes não nos percebemos como somos. E uma coisa que aprendi a duras penas, é que o que mais nos incomoda nos outros, são as atitudes semelhantes as nossas. Talvez porque nos obrigue a encarar o quão feio é ser ou fazer certas coisas.
Me puni, me martirizei mas fiz também o mais importante, reagi. Nunca usamos agressão como punição, meus filhos nunca apanharam, mas sei que muitas vezes, na maioria delas, as palavras ferem muito mais e é com elas que também devemos tomar cuidado.
Antes de ser mãe sei que sou humana, erro como todo mundo. Mas também sei  que justamente por ser mãe, tenho o dever de corrigir meus erros para ser o exemplo correto para eles. Não posso esperar, exigir  que eles sejam algo diferente do que mostro para eles. 
Filhos são fitas virgens onde gravamos tudo o que somos. Nossas melhores e piores atitudes estão ali, gravadas para sempre. 
Não tente ser perfeita, seja apenas aquilo que espera reconhecer neles um dia. Traumas e mágoas, fazem parte do caminho de todos nós, mas temos o poder de diminuir essas dores. Para isso é necessário muito amor, dedicação e principalmente conhecimento de si. Antes de corrigir um filho, pare e observe se esse comportamento não está vindo de algum exemplo seu. Corrija-se em primeiro lugar. 

Tantas mulheres buscam desesperadas pela maternidade e quando conseguem, logo na primeira semana de vida dos pequenos, me procuram em desespero porque tudo parece muito mais difícil. O bebê e a rotina idealizada estão longe da realidade e a frustração é inevitável. O amor não é e nem nunca será menor e menos importante, mas quando a frustração bate com força, pode provocar estragos emocionais profundos. Não tente ser perfeita, seja apenas o melhor que conseguir ser. 
Eles são nosso maior Patrimônio, nosso amor maior e merecem tudo o que de melhor pudermos oferecer.

Não sou uma mãe perfeita, mas tenho aprendido com meus erros. Não posso, não tenho o direito de deitar o meu estresse sobre eles. Eles são meus companheiros diários, meu maior orgulho e admiração. Passam o dia a me proteger, zelar por mim e pela Nina. O que mais ouço e digo é Eu Te amo, mas simplesmente dizer não basta, afinal muitas vezes pouco importa o que sai da boca, o que vale mesmo é o se guarda e se leva no coração. São minhas atitudes que farão a diferença na vida deles, hoje e sempre. 

Foi apenas um desabafo meninas. A maternidade é sublime, mas também tem seus monstros.


2 comentários:

  1. Lindo seu texto!!! Ainda estou com meu bebê no ventre, mas estava justamente pensando nessa "perfeição" que nós exigimos da maternidade e até mesmo parece que nos cobram... Também me senti carente do afago e de palavras mais carinhosas da minha mãe, mas sei que ela me ama muito e eu, como futura mãe, quero não só suprir as necessidades vitais do meu filho, também quero deixa-lo seguro de que é amado. Porém, estou tentando, desde já, ter consciência que que não deixarei de ser um ser humano e, justamente por isso, passível de erros e que vou errar com ele também, mas espero estar preparada para reagir e não negar estes erros. Parabéns pelo lindo e real desabafo!!!

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  2. Amei Tati como sempre muito sincera e realista!!!! Todos nos passamos ou passaremos por esse tipo de situação, como vc disse temos que saber reagir.
    Obrigada por tudo!!! May

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