Quando me descobri grávida, fui inundada por uma mistura de sentimentos complexos e contraditórios. Eu gerava uma vida, tinha um outro ser dentro de mim. Me senti poderosa, nada no mundo era maior ou mais importante que eu naquele momento. Eu aos 16 anos seria mãe.

Da euforia ao medo.

Eu seria mãe aos 16 anos, e de repente tive a dimensão da minha responsabilidade. Na minha inocente percepção, se que é podemos chamar de inocente alguém que já praticava atos nada infantis, era simplesmente o fim das minhas noites de sono, era o fim dos meus passeios ao shopping para o cineminha de quarta com a galera do colégio, era o fim da minha vida social. Mas tudo bem , eu teria um pedaço dele para sempre comigo, e isso me bastava.

Não senti medo de contar aos meus pais e tão pouco medo de contar para o meu amor. Meu príncipe, tão perfeito e tão meu, ficaria radiante. Olharia em meus olhos, e  me abraçaria apertado enquanto me girava no ar, seguraria meu rosto com suas mãos delicadas, me beijaria docemente e com lágrimas nos olhos diria que me amava e que era o homem mais feliz do mundo. Cena perfeita, emocionante e tão distante da realidade dos fatos que relatarei a seguir.

Ele foi me buscar na saída do colégio. Dentro de seu carro, recebeu a notícia que para mim , o faria feliz, mas ao invés de fogos e sinos tocando, ouvi um berro que me puxou do paraíso ao inferno numa fração de segundos.
Ele não recebeu bem a notícia e deixou isso claro ao lançar em minha face um tapa, Tapa que não machucou apenas meu rosto, mas que também dilacerou a minha alma.

Você agora deve estar pensando que ele exigiu um aborto e me ameaçou de alguma forma. Engano o seu minha amiga, ele não me exigiu nada, disse que assumiria a criança, que seria o homem que todo mundo esperava que ele fosse, que honraria suas responsabilidades, já que eu havia sido irresponsável a ponto de destruir o futuro de nós dois. 
Foi comigo contar aos meus pais , que claro, não gostaram nada da situação , mas diante do fato consumado se sentiram aliviados por saber que Ele me apoiaria e assumiria a criança. Garantiu que seu apoio seria total em tudo que fosse necessário, e assim o fez.

Nas semanas que se seguiram ele me acompanhou ao médico, comprou minhas vitaminas e cuidou para que nada faltasse na minha alimentação. Me acompanhou no primeiro ultrassom e encheu o médico de perguntas. Tudo parecia perfeito  para quem olhasse de fora, para quem sentia na pele , como eu, aquilo tudo estava muito longe da perfeição.

Ele se tornou o pai do meu filho , antes mesmo dele nascer, mas deixou de ser meu príncipe, o namorado perfeito, deixou de ser meu.
Já não me tratava com tanto carinho. As baladas eram cada vez mais frequentes, assim como os telefonemas misteriosos. As discussões passaram a fazer parte de nossa rotina  e só não eram piores pois ele , temendo pela saúde do filho , lançava algum xingamento qualquer e ia embora.

Com 10 semanas de gestação, ouvi uma ligação suspeita entre ele e outro alguém que parecia ser importante. Ao me deixar em casa, disse que iria sair com alguns amigos e partiu.
Já ferida por sua mudança de comportamento e sentindo que algo estava errado, com a ajuda de um amigo, segui o pai do meu filho até seu encontro misterioso. O que aconteceu a seguir prefiro não relatar com detalhes, só preciso dizer que sim , ele tinha outra pessoa e isso devastou meu coração de tal forma , que naquele momento, minha única intenção era feri-lo de alguma forma. Não fiz escândalo, não xinguei , não me expus, guardei toda a minha dor e fúria para algo muito pior.

Voltei para casa, e dei vazão a todo sentimento de angústia que me dominava, chorei por uma noite inteira e prometi a mim mesma que minhas lágrimas seriam vingadas.

Tomei aversão pelo bebê crescia dentro de mim, não podia imaginar que uma parte dele, crescia e se alimentava do que era meu. Já não bastava tudo o que ele tinha me tirado? Tirou de mim meu amor, meu príncipe perfeito, o homem ideal.

Sei que nesse momento estou sendo julgada por todas vocês, e verdadeiramente entendo seus sentimentos. A mulher que hoje sou, que me tornei, também é incapaz de perdoar tais pensamentos e sentimentos. Mas volto a dizer , eu tinha apenas 16 anos , não sabia nada da vida, e a não fazia ideia do quão importante era estar em minha posição naquele momento.

De volta aos fatos passados. Percebi que eu para ele não significa mais nada, eu era apenas o casulo que abrigava seu bem precioso, seu filho. Ao questioná-lo sobre sua traição , ele não me surpreendeu. Fez questão de deixar claro que tinha sim outra pessoa e que se eu quisesse te-lo a meu lado de alguma forma, que deveria aceitar e não criar problemas. Foi nesse momento que tomei uma decisão que mudaria todo o resto da minha vida. Eu não teria aquele filho.
Não podia mais conceber a ideia de deixar de viver para cuidar do filho de alguém que não me queria, que não me respeitava e que continuaria vivendo sua vida livremente, enquanto eu definitivamente estaria presa aos cuidados de uma criança que eu não desejava. Em momento nenhum durante esse processo de loucura, me dei conta que era também um pedaço de mim que eu carregava. Não via de forma alguma aquele ser com carinho, pensar nele só me remetia a sentimentos e momentos ruins . O tapa, a decepção de me deparar com um outro lado dele que eu jamais imaginei existir, a traição, a rejeição e toda dor que isso tudo me causou.
Determinada a por um ponto final em minha gravidez , passei a tomar remédios proibidos, e fazer coisas desaconselhadas. Andei a cavalo, pintei os cabelos, levei alguns tombos propositais e soquei muito , mas muito minha barriga.

Sinto lágrimas escorrem por minha face nesse momento. Perdão meu filho, a mamãe não tinha ideia do que era o amor, não tinha ideia do quão preciosa era a sua vida. Perdão!

Uma amiga que já havia feito um aborto, me indicou uma pessoa que vendia comprimidos abortivos e fazia abortos em sua casa. Primeiro tentei os compridos, dois por cima , dois por baixo, cólica, desespero , e nada. Aquela criança queria viver, era teimosa, mas eu era mais teimosa que ela, e resolvi  que passaria pelo procedimento sugerido pela mulher.



Foi então que no dia 22/12/1997 eu permiti que matassem meu filho, realizei um aborto.


Essa é a segunda parte da história de nossa amiga C.M. Como informei na postagem da primeira parte, vamos ao longo da semana, postando essa história de vida, tão brilhantemente relatada e escrita por nossa amiga. 
Amanhã tem mais 
Para ler a Parte I Clique aqui
Parte III Aqui 

Pé no chão e esperança no coração ! 
Tatiana da Costa 

4 Comentários

  1. Oi linda, pena que as atualizações do blog não estão aparecendo no meu, assinei pelo e-mail, estou lendo esta história, e nem quis olhar as partes posteriores, estou adorando o jeito que a C.M. escreve, e curiosa para saber o resto desta história.

    Beijos

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    1. Oi Suzana , vc confirmou a assinatura clicando no link do email que o feedburner te enviou? Se não recebeu o email, dá uma olhada no teu lixo eletronico, pode ter ido pra lá. Se não estiver lá, me passa o teu email que verifico pra vc. maeaflordapele@hotmail.com , manda teu email pro meu email ...rs


      Abraços!

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  2. que relato.
    me emocionei e chorei
    de mais
    linda tarde bjs

    http://sermamaepelasegundavez.blogspot.com.br/

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  3. Também engravidei aos 16, não tive apoio do namorado, mas a mãe dele me apoio. Passei por algo semelhante, tentei e não consegui abortar, mas ao escutar o coração do bebê, me apaixonei. No quinto mês tive um sangramento, fiquei internada uma semana para tentar segurar, não foi possível, meu filho nasceu dia 19/10/96 e faleceu dia 23/10/96 insuficiência respiratório. Hoje como tentante, me culpo e as vezes tenho receio de não conseguir por castigo.

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