Naquela tarde, não tinha ideia de como, aquela atitude motivada puramente pela raiva e pela mágoa, mudaria a minha vida. 
Não posso dizer que foi um ato impensado, pensei demais, mas infelizmente me baseei nos motivos errados para praticar o que eu chamava de vingança.

Voltei pra casa sangrando muito e com muitas dores. Segundo a “parteira”, os sintomas eram normais e melhorariam assim que eu tomasse toda a garrafada que ela havia “receitado”.
Dia 24/12, véspera de Natal, o sangramento só aumentava e eu já não podia mais esconder as dores absurdas que tomavam conta de todo o meu corpo. Era como se alguém estivesse com as mãos dentro de mim, torcendo ou apertando com toda força meu útero.
Fui levada ao hospital por meu pais,  que a princípio achavam que se tratava de um aborto espontâneo. Fui encaminhada as pressas até um quarto particular onde em seguida fui examinada por um médico, depois outro, e logo em seguida outro.

Meus pais foram retirados do quarto e naquele momento eu sabia o que viria a seguir. Ao ser questionada tentei negar com medo de sair dali algemada ou coisa parecida, mas ao presenciar a entrada Dele, o causador de toda aquela dor , não tive dúvidas, era a hora de dar o troco, de arrancar o coração dele com as mãos, exatamente como ele havia feito comigo. Confessei minha vingança. Fiz questão de olhar em seus olhos enquanto confessava  meu crime. 
Vi em seu semblante  a dor, a decepção e o horror. Me senti vingada, aliviada, vencedora. Devo nesse momento, ter soltado algum riso sarcástico, fruto da euforia de quem alcança seu objetivo macabro, mas não me lembro ao certo, naquele momento, eu não era eu. 
Me recordo apenas de ter olhado fixamente para ele enquanto dizia, Feliz Natal, esse é meu presente pra você. Foi a última vez que estive com ele no mesmo recinto.

Mamãe não conseguia me encarar. Papai esfregava a barba insistentemente como quem quisesse esfregar para longe a realidade que ali se apresentava .
Foram 3 dias de internação. Passei o dia de natal com a realização de muitos exames, cirurgia e muitos olhares de reprovação. Fui encaminhada para uma consulta com um psicoterapeuta que prometeu a mamãe que me ajudaria a colocar ordem nas ideias.

Ao receber alta, ao lado de papai, mamãe e minha irmã, fui informada de que havia perdido um ovário e uma trompa por causa da infecção, e que o comprometimento do meu útero naquele momento, não podia ser classificado. Isso tudo para mim, naquela hora, nada significou. Eu não queria mesmo ter filhos, não amaria novamente , nunca mais ninguém me faria sofrer.
Os anos passaram rapidamente e toquei a vida do jeito que deu. 
Terminei o colégio um ano atrasada e com 19 anos iniciei meu primeiro ano na faculdade de Pedagogia.

Minha relação com meus pais depois de todo aquele episódio triste, nunca mais foi a mesma. Papai deixou claro que eu não tinha mais sua confiança e demonstrava isso sempre que possível.
Esse foi um dos motivos que me fizeram decidir estudar em outra Cidade. E foi lá em São Carlos, interior de São Paulo que conheci uma pessoa muito especial. Foi ele quem me tirou do escuro, e através dele eu enxerguei a luz novamente.

Nesse ponto tenho que relatar algo importante. Nos três anos anteriores, não me relacionei com ninguém, tive muitos pretendentes, mas não mantive nenhum , eu disse nenhum, tipo de relação com qualquer um deles. Eu estava decidida a ser uma freira fora do convento, a não me entregar, a não me permitir um novo amor.

Não tive mais contato com Ele. Soube por pessoas próximas que ele assumiu o namoro com a tal amante e que simplesmente não tocava em meu nome, nem para falar bem e nem para o mal.

Terminei a faculdade aos 23 anos e me casei aos 24. Ele não era perfeito, mas isso não importava.
Eu já não era mais a menina ingênua de anos atrás e sabia que a perfeição não existia, era apenas uma máscara para falhas graves de caráter. Ele me amava, me respeitava, era um companheiro excepcional, e isso era o mais importante.

Desde o início do namoro, ter filhos, formar uma família, era um assunto muito abordado por ele e enrolado por mim. Após o casamento, o assunto não pode mais ser ignorado e foi então que tive que contar toda minha história. Ele ficou chocado, claro, reação normal de alguém normal, mas não me condenou. Entendeu que foi um ato desesperado de uma garota mimada e muito machucada. 
Temi que ele mudasse comigo, que me rejeitasse de alguma forma , mas isso não aconteceu. Tive seu total apoio e decidimos que após um ano de casados tentaríamos o primeiro, de 3 filhos desejados.

É importante para mim dizer a vocês que uma coisa tão forte e marcante como a que vivi, não se esquece. Não demorou muito para que eu me arrependesse dos meus atos, e isso  assombrou  muitas das minhas noites e assombra até hoje. Castigo merecido você deve dizer, e eu concordo com você. Consciência tranquila é algo que sei , jamais terei em minha vida , e esse é o meu castigo, o preço que pago por meu crime.


O primeiro ano de casada passou como num passe de mágica. Aproveitamos muito da companhia um do outro e como o combinado, paramos com a pílula e demos início aos treinos com a finalidade de concepção. Foi exatamente aí que o passado bateu forte em minha porta e deixou claro que meu castigo seria muito maior do que eu imaginava.

Nossa história aqui atinge um ponto importante. C.M enfim, terá que encarar as consequências mais graves de seu ato imaturo. 
Amanhã teremos a quarta parte dessa história emocionante.

Pé no chão e esperança no coração !
Tatiana da Costa 

Ler a parte IV Aqui

1 Comentários

  1. nossa menina que história, digna de um livro, tenho que dormir, mas quem disse que consigo..rsss

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