Eu era normal, hoje sou tentante

Virginia é uma amiga muito querida. Nos conhecemos a mais de 1 ano e ela é uma daquelas pessoas que te fazem rir sem qualquer esforço, mas que também não esconde a lágrima e nem o cansaço diante do ventre vazio e do coração cheio de esperança. Para fazer rir ou chorar, o relato da minha amiga Virgis.  
                                                                                                                                                   
Meu nome é Virginia, tenho 29 anos, sou canceriana, católica, casada e meu maior desejo hoje é ser mãe. Sou, ou melhor era, uma pessoa bastante tranquila. Isso mudou no momento em que engravidar passou de desejo para obsessão. É meninas, admito, costumo dizer que se existisse um TA ( Tentantes anônimas) eu seria a primeira da lista.  

                                                     

O mais estranho nisso tudo é que eu nunca fui de meter os pés pelas mãos. Era do tipo de pessoa que fazia sua parte, e esperava que o universo fizesse a dele. Sofrer por antecipação não fazia parte da minha rotina. Claro que existiam fatos que me faziam questionar os caminhos de Deus, mas nada tão alarmante. Mas há 1 ano e 3 meses tudo mudou.   
                                         

Encontrei no Blog Mãe a Flor da Pele,  entre muitas outras coisas uteis, um texto que fala sobre como nós mudamos quando passamos de mulheres normais a tentantes. Porque sem querer ofender, tentante não é um ser normal. Não pode ser normal você dormir e acordar apertando os seios, investigando a calcinha, fazendo toque no útero, viver com o termômetro na boca e achar que qualquer azia é sintoma de gravidez. 

Minha cunhada já me deu 3 sobrinhos, e eu nunca vi aquela mulher com um termômetro na boca. Teste de ovulação , ela nem sabia que existia. Parou a pílula e pouco tempo depois, bum, recheada de vida. 

Comecei a imaginar que o problema era comigo. Porque pensem, se ela que é mais velha que eu, parava a pílula e engravidava feito um coelho, eu tentando a tanto tempo e não consigo, sou uma árvore seca. E pra ajudar vem minha sogra com suas frases confortantes.

Ah filha (diz minha sogra), Fulana engravida só de lavar as cuecas do Júnior, já você, pelo visto vai precisar de reza brava né querida ?!! E eu pra me defender digo.

- Que nada sogrinha, não estou tentando ainda, quero curtir o maridão, mimar ele, depois pensamos nos filhos. 

As vezes acho que digo isso pra enganar a mim mesma. Afinal, todo mundo diz que um filho pode abalar um casamento, então tenho que estruturar bem a minha união antes de engravidar. Mas sei que isso é mentira, meu coração grita por um filho, minha alma implora por uma nova vida. 

Não sei vocês, mas tenho brigado muito com Deus. Não me venham com essa coisa de tempo de Deus por favor, vivo a espera desse tal tempo a tanto tempo que já nem sei se terei mais tempo para entender esse tal tempo que só Deus conhece e entende. É tempo demais na vida de um pobre ser que só quer ser mãe. 

Será que é pedir demais ? 

Conversando com a Tati  ela me disse - Virgis, você deixaria uma pessoa com desequilibrada das ideias cuidar de um filho teu? 

Eu sabichona achando que daria a resposta mais acertada do mundo, pigarreei, olhei firme nos olhos dela (estávamos no skype), e disse : 

-Mas é claro que não. Sou responsável, vou ser uma boa mãe e cuidar direito do meu filho. 

Só que ela mais sabichona do que eu me disse: 

-Pois é Virgis, Deus também é responsável e cuida bem de seus filhos, e como ele pode entregar um filho Dele, nas mãos de uma pessoa desequilibrada como você está agora.? 

Na hora pensei, essa danada precisa mesmo ter todas as respostas na ponta língua?

Eita bichinha feroz. Pra cada argumento que eu uso pra tentar provar que Deus está errado no meu caso, ela vem com três pra esfregar na minha cara que ele tá é certíssimo.

Pra que fique claro, ainda não estou rasgando dinheiro, portanto nem tudo está perdido. Minha loucura se restringe a grande vontade de embalar meu filho nos braços. Mas confesso que estou perto disso. 

Os médicos já me viraram do avesso, e clinicamente, não tenho nada que explique essa falta de um bebezinho crescendo aqui na minha barriga sarada ( a Tati me obrigou a fazer exercícios diariamente. ela é má, não se enganem com as doces palavras). Perdi a conta de quantos médicos já visitei. 

A Tati tem me falado muito de um médico que ela garante é o melhor, mas tenho medo de mais uma vez apostar as minhas fichas, me entregar a novas esperanças e nada acontecer. 

Um novo ano vem chegando e  quem sabe os novos ares de 2014 tragam a minha chance de ser mãe. Procuro ficar de olho, porque acredito que ela virá voando nas asas de um anjo, e quero estar atenta, pra pular e agarra-la sem dar chance dela escapar. 

Enquanto isso, passo meus dias analisando minha vida e tentando consertar o que pode estar errado aos olhos de Deus. Tento me moldar de forma que Ele me veja como figura digna de ser presenteada por Ele. 

E vou seguindo meu caminho, tomando chá de inhame, fazendo toque no colo do útero, me encharcando de chá verde, comendo abacaxi, plantando bananeira, fazendo malabarismo, cuspindo fogo e domando os leões do dia a dia. É acho que minha vida tá mesmo virando um circo. 

E como diz a Tati, que o tempo traga o que Deus achar que é seu.  Ela diz isso pra vocês também ?