Esse poderia ser apenas mais um relato de parto como tantos outros, recheado de sentimentos, medos e vitórias, mas embora tenha muito de tudo isso, traz consigo não apenas um nascimento, mas o renascimento de uma mulher que já não lembrava mais de si, que não enxergava mais seu lugar no mundo. Já mãe de dois, grávida pela terceira vez, deixei morrer a mulher que um dia fui e me permiti renascer no instante em que me tornei mãe da Nina Valentina, minha Menina Valente.

                                                                                                                              
Quem acompanha meu blog sabe como essa gravidez me pegou no susto e conhece um ou outro detalhe dos meses complicados que eu e Nina vivemos.
Com 11 semanas de gestação, já tratando da diabetes, pressão alta, controlando rigorosamente o peso para que a obesidade não atrapalhasse ainda mais o progresso da gestação,  tive um sangramento forte e com ele o diagnóstico de placenta prévia.
Essa gestação que já vinha desafiando minha sanidade, já que o medo era meu companheiro diário, se tornou um momento ainda mais complicado quando me dei conta de que de fato não seria fácil. Essa gestação veio para mudar muita coisa e a primeira delas foi me mostrar que mesmo que eu quisesse e tentasse muito, nem tudo é controlável e quase nada depende unicamente do meu esforço e minha vontade.

Fazendo uso de insulina 5 vezes ao dia, de 8 a 12 dextros (picadinha no dedo para verificar o açúcar no sangue), alimentação controladíssima, medicação diária para pressão me vi ainda presa na cama sem poder levantar pra absolutamente nada. Passamos então, eu e Nina, meses sozinhas dentro do quarto. Claro que eu tinha a melhor companhia do mundo, mas era inevitável me sentir só.
A vida não para e todos tem que correr. As contas nunca param de chegar porque de repente alguém encontrou um obstáculo em seu caminho, o mundo continua em movimento e quem não o acompanha não evolui.

O que verdadeiramente passei e senti, infelizmente não tenho como expressar em palavras. Eu tinha a vida mais importante do mundo dentro de mim e o seu bem estar, sua saúde dependia muito do meu, de mim e o mundo lá fora, a pessoas pareciam não entender o tamanho da minha responsabilidade. Medo, quanto medo senti.

Os meses se passaram e com 28 semanas a placenta enfim subiu, achei que poderia ter uma vida mais normal, mas foi a vez da pré eclampsia me mostrar que quem decidia não era eu. Proteínuria nas alturas, artérias uterinas dilatadas e a única solução era me manter confiante, calma e na cama.

Os problemas pessoais também não deram trégua e apareciam de todos os lados. Ser poupada nunca foi um privilégio que tive na vida e dessa vez não foi diferente. Sabe quando todos te acham forte o suficiente para aguentar qualquer tranco, não importa o momento?

É assim que as pessoas ao meu redor me veem forte o suficiente para me segurar e segurar quem estiver por perto. Não fui poupada, mas me poupei. Tentei dar importância para o que realmente valia a pena e segui.

Foquei na Nina, ela era minha prioridade. Quando o desanimo ou as dores tomavam conta de mim, ela com seu jeitinho especial de se fazer presente me fazia um carinho, dispensava para mim seu melhor afago, seu mais delicado chute e me trazia a calma e a serenidade que eu precisava para continuar firme.

Com 32 semanas a pressão começou a subir, a atenção então foi redobrada. Tive alguns picos hipertensivos contornáveis. As consultas a essa altura já eram semanais.
Exames eram feito e refeitos com uma insistência e cuidado extremos. A essa altura o coração já estava apertado e eu só pedia a Deus que as semanas passassem com rapidez. Queria o quanto antes minha pequena nos braços, mas já tive uma filha prematura e sabia muito bem o quão importantes são as últimas semanas de gestação.

Tentei me manter calma pra controlar a pressão já que a diabetes estava se comportando tão bem que até assustava.
Perdi durante toda a gestação quase 10 quilos. Antes que as pedras começam a chover, entendam, não fiz dieta pra emagrecer, tive que reestruturar minha vida, minha alimentação para ter uma gestação o mais saudável possível. Com isso, perder peso foi inevitável. O desenvolvimento da Nina em nada foi afetado, muito pelo contrário, ela crescia com perfeição já que eu comia o que era necessário de forma correta.

Com 36 semanas minha médica então resolveu que poderíamos marcar a data da cesárea. Com duas cesáreas anteriores e um histórico gestacional bem complicado, esperar chegar as 39 semanas seria irresponsabilidade. Ficou acertado que no dia 01/10 eu passaria por um aminocentese e no dia 02/10 se tudo desse certo no dia anterior a Nina nasceria com 38 semanas e 3/7, mas como nada na minha vida funciona como o planejado, o nascimento da Nina não fugiu a essa regra.

Minha pressão já estava alta a alguns dias e entre muitas idas e vindas do hospital já tinha tido um pico bem preocupante de 16/11 que graças a Deus, depois de muita oração e entrega, acabou cedendo sem medicação para impressionantes 12/8. Deus estava agindo e isso ficou claro demais pra mim nesse momento.

No dia 01/10 levantei cedo para minha última consulta do pré-natal, mas já saí de casa avisando que talvez a Nina nascesse naquele dia.

Passei pela pesagem, cardiotoco e ao aferir a pressão 15/11. Fiquei de repouso ainda no consultório médico aguardando minha médica chegar. Ao chegar ela me examinou, aferiu novamente a pressão e já solicitou o Samu para me encaminhar a maternidade. 

Como ficou longo, achei por bem dividir em duas partes. Leia a segunda parte  Aqui


3 Comentários

  1. Que lindo Tati, vc é guerreira demais ! Consegue me passar segurança mesmo de londe....Parabéns !

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  2. Deus seja Louvado
    está semana pensei em vcs , achei que vc já estaria com a NIna nos braços ... fico feliz por vc e sua familia . Bjokas

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